A gamificação surge como uma das principais tendências que devem impactar o mercado de fidelização nos próximos anos, conforme apontado pelo relatório Loyalty Program Trends 2025. O estudo revela que, embora a estratégia já esteja experimentando um crescimento expressivo, com investimentos projetados de 32% em 2021 para 45% em 2025, ela está se consolidando como um componente essencial para o loyalty. Com isso, espera-se que a gamificação promova um envolvimento mais profundo de clientes e colaboradores, reforçando a lealdade à marca e otimizando a retenção.
Para discutir mais sobre este tema, conversamos com o especialista no assunto e um dos autores do livro O Jogo dos Negócios: Aprenda a Gamificar Sua Empresa e Vencer a Concorrência, Marcio Carvalho. Na obra, ele explora como a gamificação pode transformar o ambiente corporativo ao aplicar elementos de jogos para aumentar a motivação e o engajamento de funcionários e consumidores. Confira!
O que o inspirou a escrever o livro? Houve algum evento específico ou tendência no mercado que tenha despertado seu interesse pela gamificação no ambiente corporativo?
Marcio Carvalho – A inspiração para escrever este livro surgiu minha da experiência dos últimos anos, aplicando gamificação como uma ferramenta para auxiliar nas ações do planejamento estratégico das empresas em que tenho atuado e na mentoria de profissionais de tecnologia e produto. Por um lado, a cultura digital havia formado consumidores e colaboradores mais exigentes, em busca de experiências personalizadas, dinâmicas e significativas. Por outro, o acesso a dados e tecnologias emergentes permitia enxergar caminhos para atender essas expectativas de maneira estratégica. Ao observar empresas e analisar novas tendências, entendi que a gamificação era a “ponte” capaz de integrar metas corporativas com o desejo humano por desafio, reconhecimento e propósito. Esse insight foi o ponto de partida para criar um arcabouço prático e teórico, consolidado no livro O Jogo dos Negócios, oferecendo ferramentas para que qualquer negócio possa tirar proveito dessa sinergia entre comportamento, tecnologia e resultados.
Para uma empresa que está começando agora a explorar a gamificação, quais seriam os primeiros passos que você sugeriria para integrar elementos de jogo em sua estratégia empresarial?
Marcio Carvalho – Antes de iniciar qualquer implementação, é essencial que a gamificação esteja alinhada com a estratégia de negócio. Começa-se por definir objetivos claros: quais metas e comportamentos se pretende incentivar entre colaboradores, clientes ou parceiros? Em seguida, é importante conhecer profundamente o público através de ferramentas como entrevistas, WhoDO, Mapas de Empatia e análise de dados existentes. Com essa compreensão das motivações, desejos e desafios, é possível selecionar elementos lúdicos como pontos, emblemas e rankings, e criar um sistema de recompensas que realmente faça sentido. Uma abordagem interessante é pensar em um “mercado de trocas”, onde os participantes possam escolher recompensas que estejam alinhadas aos seus interesses, aumentando assim o engajamento e a percepção de valor. Iniciar com um grupo-piloto, coletar feedbacks e realizar ajustes contínuos ajuda a garantir que a gamificação seja não apenas divertida, mas também relevante, produtiva e sustentável a longo prazo, contribuindo de forma concreta para o alcance das metas estratégicas.
Você acredita que a gamificação pode ser adaptada para diferentes setores de mercado, desde empresas de tecnologia até negócios de varejo? Quais são os ajustes necessários para garantir que ela seja eficaz em contextos variados?
Marcio Carvalho – A gamificação pode ser adaptada a diversos setores, desde a tecnologia até o varejo, especialmente ao adotar uma abordagem que vai além da simples dimensão lúdica dos jogos. Isso implica refletir sobre seus impactos e desenvolver estratégias mais profundas e sustentáveis para engajar e motivar indivíduos em diferentes contextos. Essa metodologia combina elementos intencionais e sutis de maneira estratégica, permitindo envolver diversos públicos de forma eficaz.
Para garantir a eficácia em diferentes contextos, alguns ajustes são essenciais:
Ao combinar esses ajustes, a gamificação proporciona a flexibilidade necessária para adaptar estratégias a diferentes mercados. Isso resulta em experiências envolventes e significativas que impulsionam resultados concretos e sustentáveis, independentemente do setor.
A ideia é estruturar a experiência dos participantes em fases distintas, começando com algo como um simples cadastro de um usuário em uma plataforma até chegar a um estágio em que o cliente não apenas se torna fiel, mas também passa a atuar como embaixador da marca. Em cada nível, novos benefícios e recursos exclusivos são desbloqueados, reforçando a sensação de evolução e pertencimento. Esses incentivos podem variar de cupons de desconto, que incentivam a continuidade das compras, até mentorias individuais ou coletivas, que estimulam o aprendizado e a interação entre participantes. Essa combinação de recompensas, e um caminho definido de crescimento, cria um ecossistema no qual o participante se sente valorizado e motivado a atingir o próximo nível. A figura a seguir exemplifica esta ideia.
O mercado de fidelização e incentivos está em constante evolução. Como você enxerga o futuro da gamificação nesse campo?
Marcio Carvalho – O futuro da gamificação em fidelização será marcado por experiências cada vez mais personalizadas, imersivas e sociais. Entre as tendências que se destacam:
Com o avanço das tecnologias, como inteligência artificial (IA) e big data, como você vê essas ferramentas potencializando ainda mais a gamificação nas empresas?
Marcio Carvalho – IA e big data não apenas reforçam a gamificação, como a tornam mais inteligente e responsiva. Ao analisar autorrelatos, feedbacks e dados comportamentais, é possível segmentar participantes em diferentes arquétipos ou modelos como o RFM, entendendo o valor de cada cluster para o negócio. Essa classificação permite direcionar desafios, recompensas e campanhas de forma mais assertiva, alinhando a oferta ao perfil de cada grupo.
Além disso, a inteligência artificial identifica padrões de engajamento, antecipa preferências e ajusta a dificuldade de tarefas ou o tipo de benefício oferecido. O resultado é uma experiência dinâmica e sob medida, na qual cada colaborador ou cliente tem uma jornada singular. Com feedbacks automáticos, recomendações personalizadas e otimização contínua, a gamificação evolui com o usuário, garantindo relevância, autonomia e resultados crescentes para a empresa.
Qual é a mensagem principal que você gostaria de passar para os leitores que estão considerando gamificar suas empresas?
Marcio Carvalho – Se os dados são o novo petróleo, a gamificação inteligente é o caminho pelo arco-íris até o pote de ouro. A gamificação vai além de inserir mecânicas de jogo no negócio; ela é uma poderosa ferramenta para coletar dados e gerar insights estratégicos através de autorrelatos e ações comportamentais. Transformar pontos, emblemas e rankings em ações significativas cria uma jornada envolvente para os participantes. Além disso, estabelecer um mercado de trocas autônomo, potencializado por patrocínios, transforma a rede em uma verdadeira mina de ouro. Integrando essas estratégias, a gamificação não só promove comportamentos desejáveis e fortalece a cultura organizacional, mas também gera dados valiosos que aprimoram campanhas de fidelização, aumentando a percepção de valor e fortalecendo o relacionamento entre a marca e seus stakeholders. Em essência, a gamificação inteligente combina tecnologia e comportamento humano para construir uma vantagem competitiva duradoura, conduzindo a empresa ao sucesso estratégico.
Por fim, qual é o maior erro que você vê as empresas cometendo ao tentar gamificar suas operações, e como elas podem evitá-lo?
Marcio Carvalho – O maior erro é tratar a gamificação apenas como um “enfeite”, sem integrá-la à estratégia empresarial e sem considerar os interesses reais dos participantes. Isso resulta em experiências superficiais que rapidamente perdem relevância e não engajam efetivamente.
Para evitar esse erro, as empresas devem:
Seguindo essas diretrizes, a gamificação se torna um pilar sólido de vantagem competitiva, promovendo um engajamento sustentável e fortalecendo o relacionamento com clientes e colaboradores.
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