Entrevista exclusiva: Bruno Schmidt mostra como a Lifeverso usa blockchain para fidelizar com impacto social
//Engajador Tudo Sobre IncentivosO mercado de fidelização no Brasil vive uma transformação impulsionada pela demanda por propósito: enquanto 88% dos consumidores preferem marcas com impacto social positivo (HumanSmart), 3% já convertem pontos de programas de fidelidade em doações – o dobro da média global, segundo a Comarch. Esse movimento se alinha ao crescimento da agenda ESG (Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança em português), que tem redefinido os critérios de escolha dos consumidores e os padrões de investimento no mercado. Nesse contexto, a Lifeverso, plataforma fundada por Bruno Schmidt, propõe uma ponte concreta entre esses princípios e os negócios através dos ‘cards do bem’, sistema que associa recompensas a doações com transparência garantida por blockchain.
Nesta entrevista, Bruno Schmidt detalha a gênese do projeto, desde a percepção de que a paixão por marcas poderia gerar impacto social até a operação prática do modelo, que já envolve desde pequenos comércios até grandes franquias. O fundador também analisa como essa abordagem reflete as novas expectativas dos consumidores, especialmente das gerações mais jovens que valorizam o alinhamento entre consumo e valores socioambientais, e os desafios de implementar iniciativas de fidelização com propósito em escala.
Como surgiu a ideia da Lifeverso e quais foram os principais desafios para torná-la realidade?
Bruno Schmidt – A ideia veio da provocação de como utilizar tecnologia para converter a reputação de marcas junto a seus públicos em valor concreto para a sociedade, como melhorar nosso dia a dia, um conceito muito ligado ao “S” do ESG. Por exemplo, a paixão de um torcedor, de um fã ou de um admirador de uma marca. O propósito acabou se transformando em uma socialtech, que usa tecnologia para fins sociais, visando o aumento de doações pelo engajamento de públicos. Criamos um identificador digital tangível e central (card), que pode ser lido pelos diversos membros da sociedade. Tanto as marcas quanto os públicos podem usar um card como referência para incentivar ações de engajamento, campanhas, prover contrapartidas e acessos, além de personalizar experiências.
Um dos principais desafios é criar uma maneira simples de combinar conceitos distintos em um modelo de operação que entregasse nosso propósito. A solução “cards do bem” combina conceitos como e-commerce, fidelização, práticas de doação, formação e comunidade, redes sociais. Outro desafio relevante é a adoção da dinâmica dos cards no ciclo de interação de marcas com seus públicos.
Como funciona a dinâmica dos cards digitais e por que foi escolhida essa abordagem para incentivar doações?
Bruno Schmidt – A dinâmica envolve a participação de uma marca apoiadora e uma causa social. A marca tem livre escolha sobre qual ação social apoiar. Uma vez que uma marca decide apoiar uma causa social, criamos com a marca uma coleção inicial de cards para associar às doações. Fazemos o registro dos cards em Blockchain e carregamos em um site customizado com a identidade visual da causa social para recebimento de doações.
Os cards possuem limitação de quantidade ou prazo disponível e podem ter contrapartidas associadas a eles. A marca divulga então seu apoio à causa social, como já faz em suas ações de comunicação, promovendo o site para doação.
A pessoa interessada em doar realiza um cadastro simples no site e escolhe um valor de doação. Cada valor de doação tem um card associado, e quando a pessoa realiza a doação (pix/cartão) o card vai para a conta do doador, custodiada na solução “cards do bem”. Pode então visualizar seus cards, compartilhar em redes sociais, colecionar. Neste momento os dados do dono do card são enviados para a marca apoiadora, destravando contrapartidas, por exemplo. É uma maneira de marcas recompensarem o comportamento social, além da usual recompensa pelo consumo.
Como é a operacionalização da solução “cards do bem”?
Bruno Schmidt – É um processo bastante simples e em pleno compliance com regulações de LGPD. O uso de Blockchain permite a transparência nativa na quantidade de transações, a marca não precisa estocar nenhum ativo digital, os cards são criados e transacionados no site dedicado da instituição social, na solução “cards do bem”. Não há gestão de recursos financeiros pela marca, e os cards não tem um valor financeiro; são uma recordação associada a uma doação, sendo caracterizado como um ativo de utilidade, em conformidade com legislação que trata de ativos digitais. As pessoas consentem que os dados de propriedade de um card sejam compartilhados com os parceiros envolvidos na iniciativa, o que é realizado via envio de arquivos simples, e não integrações complexas de trocas de dados. O foco da marca é na divulgação ativa da iniciativa e pode ser tão simples quanto posts em redes sociais e um display com o QR code no ponto de venda. O MKT é plenamente ativo na criação de temas e novas formas de engajamento. Ao mesmo tempo, a marca eleva seu ESG, sem a necessidade de um desembolso financeiro na forma de doações, mas com efeitos concretos, não apenas no discurso. O ativo em questão é a capacidade de engajamento do público.
De que forma a Lifeverso garante que os valores doados cheguem integralmente às instituições apoiadas?
Bruno Schmidt – A doação é realizada diretamente para o CNPJ da instituição apoiada, em site dedicado. Os recursos não transitam na Life ou nas marcas apoiadoras.
Como as marcas podem personalizar suas campanhas dentro da plataforma? Existe um modelo de engajamento sugerido?
Bruno Schmidt – Cada card é uma imagem de livre escolha da marca, havendo liberdade de criação. Os temas dos cards podem ser uma linha de produtos, um lançamento, momentos da história da marca, o tema de um mês, uma ajuda a uma emergência, o logo de um patrocinador apoiador, inclusive combinar mais de um logo. O sugerido é fazer um planejamento de coleções, com alguns modelos diferentes de cards e que podem ser alterados ao longo do tempo. Como uma pessoa fica com a posse do card mesmo após receber uma contrapartida (ativo digital), uma marca pode recompensar uma pessoa por ter participado em várias campanhas, por exemplo, ao longo do tempo. Pode dar um card exclusivo de premiação e desta forma ter uma relação de tratamento diferenciado com um determinado cliente.
Além de programas de fidelidade tradicionais, a Lifeverso pode ser integrada a outros tipos de incentivos ou benefícios?
Bruno Schmidt – Sim, por exemplo no apoio a eventos esportivos, clubes, ou festivais e shows culturais o card pode funcionar como uma mídia para atração de patrocinadores. Um card digital colecionável é uma mídia digital perene, que fornece os dados de quem a possui, e pode ser colecionada, compartilhada em redes sociais, presenteada e até vendida. Por exemplo, um time de futebol faz uma campanha junto à sua torcida em que o torcedor que doar para uma determinada causa social recebe cards que variam com o valor. Estes cards tem imagens de taças que o time ganhou e no desenho do card aparece o logo de um patrocinador do time. Quem tiver a coleção completa recebe uma mensagem gravada de um dos embaixadores da campanha e se for associado ao programa de fiel torcedor ainda tem seu nome em um placar digital. O patrocinador pode oferecer contrapartidas, por exemplo (um saldo inicial para abrir uma conta). É um ciclo financiado pelo patrocinador, beneficiando a sociedade como um todo. Tudo centrado em um identificador digital que é um card.
Como a tecnologia blockchain garante a segurança e transparência das transações dentro da Lifeverso?
Bruno Schmidt – Cada vez que a pessoa faz uma doação, a solução ‘cards do bem’ dispara uma transação interna, transferindo a propriedade de um card para a conta do doador. A conta digital é aberta pelo simples cadastro que a pessoa faz quando vai doar, como qualquer cadastro em um site de e-commerce.
A mudança de propriedade de um card é uma transação no blockchain, que tem uma natureza descentralizada. Isto quer dizer que existem diversos validadores de uma transação, espalhados pela rede digital global, que atestam que aquela transação é autêntica e deixam esse registro gravado com um código público. É como se fosse a emissão de um número de chassi a cada carro que é produzido, mas à prova de falsificação, pois precisa ser validado por vários validadores independentes. A quantidade de transações de um card é pública, basta clicar no certificado do card e visualizar quantas transações houve, mas sem identificação de dados pessoais, garantindo privacidade.
Você acredita que a geração Z e os consumidores mais jovens realmente estão dispostos a doar mais se forem incentivados com recompensas?
Bruno Schmidt – As recompensas são parte da solução “cards do bem”, que visa aumentar o nível de incentivo à doação. O ser humano naturalmente se sente bem ao fazer o bem, e pesquisas sobre a geração Z coordenadas pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento Social), mostram que a geração Z está doando mais em % de pessoas do que outras gerações. A maior % da geração Z também entende que as organizações dependem do apoio da sociedade para obter recursos e funcionar. Os cards são uma forma concreta de receber uma comprovação do ato de doar, compartilhável com outras pessoas via redes sociais, fáceis de demonstrar e que podem ser trocados entre pessoas (comunidade). O mundo digital é bastante comum à geração Z. Os cards trazem também um apelo emocional: o ato de colecionar ao longo do tempo itens de diferentes tipos de raridade. O objetivo é aumentar o incentivo como um todo, utilizando diversos elementos.
Além das doações financeiras, existem planos para expandir a plataforma para ações voluntárias ou outras formas de impacto social?
Bruno Schmidt – Sim, as doações financeiras são uma forma concreta de engajamento do público com uma instituição social. Mas vale lembrar que o que movimenta a solução “cards do bem” não é a doação em si, mas o ato de possuir um card. Se criamos outras maneiras de possuir um card, como por exemplo, uma forma de “remuneração” por um serviço voluntário, estamos aumentando o incentivo do sistema como um todo. Daí também a importância de marcas apoiadoras para o incentivo ao sistema de cards do bem.
Quais setores da economia têm demonstrado mais interesse em integrar essa solução aos seus programas de fidelidade?
Bruno Schmidt – Temos interação principalmente com programas de fidelidade em estágio de maior maturação, o que ainda deve crescer muito no país, dificultando muitas vezes a adoção da solução “cards do bem” no curto prazo. O operacional de implementação é bastante simples, mas diversas marcas de alto contato com o público tem desafios de como criar contrapartidas de engajamento. Temos realizado diversas conversas e estudos com clubes de futebol ou organizadores de shows e festivais, que demonstram muito interesse em aproximar público com a dinâmica de “cards do bem”, acrescentando um fator a mais para o card, que é o uso como uma mídia digital para atrair patrocinadores, que pode ter amplo efeito na utilização de “cards do bem”.
Como as marcas podem medir o impacto do engajamento social gerado pela Lifeverso dentro das suas estratégias de fidelização? Já existem cases de sucesso de empresas que aumentaram seu engajamento por meio da plataforma?
Bruno Schmidt – Uma das maneiras concretas é pelo efetivo volume de transações que ocorrem com um card, que é uma informação pública pelo uso de Blockchain. O sentimento das pessoas em relação à novidade em engajamento de redes sociais é também uma forma de medir o acolhimento pelo público, mesmo que a pessoa não doe no primeiro momento, mas demonstra uma reação positiva à adoção da iniciativa. Existe um caso prático com o Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, SP, especializado no tratamento de câncer, e estabelecimentos comerciais da região que apoiam campanhas pontuais, como maior chance de ganhar em um sorteio de viagem, maior tempo em uma atração, aceleração de fidelidade, entre outros. O tipo de contrapartida depende muito de cada negócio. O interessante é que ao longo das iniciativas com o Hospital, vários franqueados de redes nacionais demonstraram grande interesse em participar, mas não puderam, pois essa decisão cabia à marca franqueadora. É um caminho de adoção junto a marcas de escopo nacional com ampla capacidade de engajamento. A reação do público em geral à iniciativa foi bastante positiva, respeitando o potencial de engajamento financeiro das pessoas em um primeiro momento.
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