Em um setor cada vez mais competitivo, a hospitalidade enfrenta um desafio recorrente nas estratégias de fidelização: garantir que as recompensas sejam percebidas como realmente valiosas. Segundo o EY Loyalty Market Study 2025, 35% dos executivos desta indústria apontam a relevância dos benefícios como o principal obstáculo de seus programas, um índice acima da média geral dos setores (28%).
Para Marcelo Custodio, CEO da Valuenet e professor PhD, a recomendação é “comunicar melhor os benefícios oferecidos, reforçar seu valor sempre que possível e explorar colaborações estratégicas para enriquecer as ofertas”. A fala reflete uma urgência crescente, que diz respeito não apenas à multiplicação de vantagens, mas à necessidade de torná-las visíveis, desejáveis e contextualizadas para o viajante moderno.
Essa diretriz ganha respaldo direto nas preferências declaradas pelos próprios consumidores. Um levantamento com participantes do programa GHA DISCOVERY, conduzido pela Global Hotel Alliance em parceria com a Bond Brand Loyalty e publicado em abril de 2025, revelou que benefícios funcionais relacionados à estadia lideram a lista de prioridades. Upgrades de quarto foram citados por 47% dos respondentes, enquanto café da manhã cortesia, check-in antecipado e check-out tardio somam 73% das menções como vantagens favoritas. Em contraste, benefícios de natureza mais transacional — como tarifas exclusivas ou acúmulo de pontos — concentraram apenas 23% das respostas.
Essa priorização pela experiência, e não apenas pela economia, reforça a necessidade de entregar benefícios tangíveis que impactem diretamente a jornada do hóspede, ampliando a percepção de cuidado, exclusividade e conveniência em cada interação com a marca.
Com 70% dos viajantes ativos em três ou mais programas hoteleiros, segundo dados da GHA, a fidelidade no setor não é sobre exclusividade, mas uma disputa constante por relevância. Nesse ambiente altamente competitivo, destacar-se exige mais do que um portfólio robusto de recompensas. É preciso entregar benefícios com significado concreto para o hóspede.
A pesquisa mostra que, enquanto programas de grande escala são valorizados por sua acessibilidade e cobertura geográfica, os menores ganham vantagem ao oferecer experiências mais relevantes e hotéis com padrão superior de qualidade. O diferencial competitivo, nesse contexto, está em proporcionar jornadas personalizadas, com menos fricção e maior clareza. Os viajantes valorizam recompensas simples de usar, sem barreiras operacionais nem regras opacas — e essa pressão já tem impulsionado o setor a investir em soluções digitais mais eficientes e consistentes.
Essa tendência encontra respaldo nos dados da EY, a hospitalidade é o setor que mais investe na atualização da experiência digital dos programas, 44% das empresas planejam melhorias em interface e usabilidade, frente a 31% da média geral dos setores. O objetivo é tornar o processo de reserva e engajamento “o mais fluido possível” para os membros, especialmente à medida que cresce a exigência por jornadas digitais mais intuitivas.
Outro movimento estratégico em expansão é a ampliação dos programas de fidelidade para além da hospedagem — tanto em escopo quanto em significado. Grandes redes têm investido em parcerias com marcas de outros segmentos, criando conexões relevantes com o cotidiano e os interesses dos seus membros. O Marriott Bonvoy, por exemplo, promoveu experiências exclusivas para fãs da turnê Eras Tour de Taylor Swift, reforçando o apelo emocional do programa entre públicos mais jovens. A Wyndham Hotels & Resorts firmou parceria com a rede de restaurantes Applebee’s, oferecendo recompensas em alimentação — o que aproxima o programa de momentos cotidianos e facilita o uso dos pontos.
Já a Choice Hotels integrou 21 propriedades da Westgate Resorts ao seu sistema de reservas e resgates, ampliando o alcance do programa nos EUA. Além disso, lançou iniciativas com foco em turismo esportivo: em parceria com a Learfield, passou a oferecer acesso a jogos de futebol americano e basquete universitário; e com a equipe Trackhouse Racing, promoveu experiências ligadas à NASCAR — estratégias alinhadas a perfis de viajantes que valorizam entretenimento ao vivo e exclusividade temática.
À medida que os programas se afastam da lógica transacional e se aproximam da vivência do cliente, a fidelidade na hospitalidade passa a ser definida por novos critérios: experiências personalizadas, usabilidade fluida, recompensas funcionais e parcerias que gerem valor real. Entender o contexto da jornada do viajante e posicionar o programa como parte dela, e não como uma camada paralela, será cada vez mais determinante para engajar, reter e emocionar.
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