Por Patrícia Mafra Barbosa*
Esportes ensinam muito. Acredito que todos nós temos lições para a vida nascidas da prática de alguma atividade física, solo ou em grupo. As qualidades desenvolvidas ou aperfeiçoadas são muitas: planejamento, motivação, disciplina, perseverança, adaptação, foco… São fatores que nos fazem perceber que aquela montanha, por mais alta e distante, ainda está ao nosso alcance – apesar do cansaço, apesar dos erros, apesar das dúvidas.
Essas características extrapolam as quadras, campos e tatames e têm sido muito bem-vindas nos ambientes acarpetados das corporações. Não é à toa que esportistas e treinadores se tornaram referência, por exemplo, em técnicas motivacionais e organizacionais para trabalho em equipe, além de cases de superação, nos casos de esportes individuais. De Magic Paula a Gustavo Kuerten, de Amyr Klink a José Roberto Guimarães, há muitos nomes consagrados palestrando para empresários e suas equipes.
Mas essa é uma via de mão dupla: além das lições do esporte sendo utilizadas na resolução de desafios de negócios, é possível usar técnicas do mundo corporativo para incentivar a prática de esportes. Como publicitária que trabalha com marketing de relacionamento e incentivos, percebi que há várias mecânicas de motivação e engajamento que as empresas vêm utilizando para estimular esportes entre seus consumidores e funcionários. Como corredora, que começou gastando sola em quarteirões, praças e parques do bairro para – spoiler! – competir e terminar uma ultramaratona nos Andes, posso garantir que essas estratégias de incentivo funcionam.
Em geral, o objetivo das companhias ao incentivar praticantes ou estimular aspirantes é vincular-se a uma sensação de bem-estar e realização. É uma ideia bastante comum em RHs que empresas que incentivam práticas esportivas sofrem de menos absenteísmo por questões de saúde, além de gerarem um sentimento de comunidade e de competição sadia entre seus funcionários.
Já com relação aos clientes, a meta de empresas ao incentivar a prática de qualquer modalidade é criar um elo com sua marca – e isso inclui, claro, as do mercado esportivo, que querem vender seus produtos. Um exemplo que muitos conhecem é o dos aplicativos gratuitos para smartphones e smartwatches que utilizam GPS e frequencímetro (que monitora os batimentos cardíacos). Somados a informações como peso, altura e idade, eles geram dados não só sobre os quilômetros percorridos, mas sobre a queima de calorias etc.
Junte-se a isso a gamificação: a competição com suas próprias marcas ou rankings com outros participantes e, pronto, você tem o empurrão necessário para continuar ou ir além. Um dos apps que utilizo me dá badges a cada quilometragem alcançada. A recompensa é intangível, mas o sentimento de missão cumprida é real. Hoje, várias gigantes de calçados esportivos possuem um aplicativo com essas funcionalidades. Você pode até não ter um tênis daquela marca, mas ao utilizar o app em uma atividade prazerosa você irá associá-la àquela experiência. A marca deixa de ser um utensílio para ser uma ideia, um estilo de vida.
Uma maneira que considero interessante para manter os corredores estimulados são os grupos gratuitos de treinos para corridas (crews). O usuário se inscreve por um app e no dia e hora marcados se encontra com outros atletas. Essa interação mantém as pessoas engajadas. Outra estratégia de relacionamento das marcas é oferecer conteúdo ao seu público: palestras, oficinas, fatos relevantes e novidades em um site ou aplicativo, que informem e eduquem os amadores sobre seus esportes.
Eu senti também a necessidade de um acompanhamento mais profissional, após anos correndo por conta própria. Procurei, então, por uma assessoria esportiva, um grupo de corrida liderado por um profissional de educação física que acompanha os atletas, monta treinos etc. Eu possuía a motivação, mas o assessoramento correto me permitiu saber que, atenta às minhas limitações físicas, eu poderia romper com meus limites mentais.
Essa ajuda profissional me fez ir, em 2018, das corridas de rua para uma ultramaratona de 100 quilômetros através dos Andes. Trata-se de uma travessia dos Andes, na Patagônia chilena, com ascensões e declives em terrenos difíceis, clima hostil (nunca passei tanto frio na minha vida!), mas com uma paisagem cinematográfica, que incluía lagos, vulcões e picos nevados, o El Cruce.
Com esse objetivo, passei por um ano de preparativos – traçar uma meta, aliás, é dos melhores estímulos que existem. E, como todo grande projeto, defini etapas, a estratégia de dividir para conquistar. Criar estágios gera um senso de avanço e auxilia na avaliação da evolução, possibilitando retomar etapas ou adaptar o programa. Afinal, vivemos um dia de cada vez – e, no meu caso, era crucial ter isso em mente, pois eu iria correr entre 25 a 35 quilômetros montanha acima (ou abaixo) por dia, durante três dias!
E corri. Apesar do cansaço, apesar dos erros, apesar das dúvidas. E todo o esforço foi recompensado. O que vivi e aprendi é para sempre. E, se de fato o esporte me ensinou muito para a vida, dela e da minha profissão eu tirei muitas lições que utilizei no esporte. Podem dizer que é um clichê, mas eu sei, de verdade, que toda jornada começa com o primeiro passo, esteja na empresa ou na montanha, sem esquecer que a jornada é o prêmio, a experiência é a recompensa.
*Patrícia Mafra Barbosa é formada em Propaganda e Marketing pela UNIP, com MBA em Marketing de Serviço pela ESPM, corredora e ultramaratonista
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